terça-feira, 23 de março de 2010

E então, surfe!

- Caramba, você viu aquela vala que quebrou ali naquela bancada, que esquerda, veio alinhada, lisa, fritando o lip pra jogar o barrel lá na frente, oco...isso aqui está parecendo uma máquina de ondas...

Caro amigo, quantas vezes você já ouviu ou disse algo parecido com a frase acima?
Interessante como nós, amantes do mar e surfistas incondicionais entendemos o que cada um da nossa espécie sente, pensa, fala...

Para entender o feeling que temos, é necessário olhar para traz. Onde tudo começou, ou, como dizemos, quando o mosquito nos picou e a partir daí, moldou nossas humildes vidas para nos aproximar da natureza.

O surfe entrou na minha vida despretensiosamente, pois, na época, por volta do início dos anos 90, minha família não tinha casa de praia e, nossas condições não favoreciam idas e vindas para o litoral em forma dos famosos “bate e volta” ou mesmo para nos hospedar em pousadas ou hotéis.

Não tive um tutor que me oferecesse dicas de como me posicionar na prancha, como furar onda, noções básicas que as escolinhas de surfe nos ensinam em nosso primeiro contato com o esporte de maneira clara e objetiva. Mesmo assim, insisti. E sinceramente, o surfe necessita dessa persistência, desse foco, pois por ser uma prática solitária, o corpo mole não nos leva a nada.

Aos poucos, fui pegando a manha e em pouco tempo, já conseguia encarar umas paredinhas, e acho que essa é a evolução de todos, independente se você já fora nove vezes campeão mundial, ou apenas, um surfista de final de semana, como eu.
Neste processo, aparecem as amizades. Aqueles caras que entrarão no melhor e no pior mar, com chuva ou com sol e com certeza gritarão com suas novas conquistas e você com as deles.

Lembro de minha primeira surftrip. Uma praia no litoral Sul. Ainda freqüento e guardo sua localização, por respeito ao lugar, com o mesmo entusiasmo de quando fui informado que ele era mágico. Ondas realmente impressionantes que, não perdem em nada para as do litoral norte, e porque não dizer internacionais. Sim, a nossa onda preferida, quando quebra, sempre achamos que nem Pipeline conseguiria superar aquela perfeição.

As roupas mudam. O vocabulário, ao contrário do que pintam os desentendidos da arte de deslizar sobre as ondas, aumenta, pois além de nossa linguagem do dia-a-dia, ainda temos o dialeto salgado. Aquelas gírias que ninguém entende e sempre nos pedem para traduzir.

Outro fator igualmente importante é a trilha sonora. Descer a serra ouvindo a música que cabe ao momento. Chegar à praia fissurado com seu som mais empolgante, ou ficar de bobeira na frente do carro, olhando o mar perfeito que você acaba de surfar da melhor maneira que pôde na companhia tranquila de Bob Marley, Jack Johnson e Donavon entre outros. Importante. Não cito um parágrafo todo dedicado as mulheres, pois estas dispensam comentários. Todos sabem que as pranchas atraem.

Somos surfistas que aproveitam todo o tempo que tem, longe das obrigações, para voltar-se ao mar, ao surfe, ao contato com nosso universo. Costumo dizer que moro na praia, porém, fico em São Paulo de semana apenas para trabalhar, ou sustentar meu vício.

- Vício?...Sim, vício!! Sou viciado em surfar...
E com certeza, com toda a força que tenho, espero encontrar meus amigos no próximo final de semana e, repetir pela milionésima vez a frase que iniciei este texto.
- Caramba, você viu aquela vala que quebrou ali...

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